Artigo
Semana do índio: Não vamos só comemorar, vamos relembrar e resistir – Wilson Matos da Silva
Nesta semana do índio, portanto, não nos esperem nas comemorações vazias. Estaremos nos terreiros, nas retomadas, nas escolas e nas universidades.
| ASSESSORIA
Em meio às homenagens superficiais, às pinturas escolares e às reportagens apressadas, somos obrigados a ouvir — mais uma vez — que a “semana do índio” chegou. Mas o que dizer nós, os verdadeiros protagonistas dessa história negada? O que falar quando a memória sangra e o presente ainda é luta? Falar das atrocidades cometidas contra nossos povos? Dos massacres na floresta e da fome nas reservas superlotadas? Dos corpos esquecidos, das línguas silenciadas, das crianças sem futuro? Falar que, mesmo com todos os discursos de paz e reconciliação, o Estado brasileiro insiste em negar nossa existência plena, em rasgar nossos direitos garantidos na Constituição e nos tratados internacionais? Ou será melhor falar da nossa tentativa — milenar — de apaziguar os espíritos e acalmar as almas dos forasteiros? Falar do nosso esforço incansável para construir uma convivência possível, para fazer da terra um lugar de partilha e não de conquista?
Desde o primeiro o do invasor, nós temos oferecido o que temos de mais nobre: o respeito à vida, à natureza e ao sagrado. Mas o que temos recebido em troca? Retrocessos, perseguição, desmonte das políticas públicas e agora até criminalização da nossa luta. Nesta semana do índio, portanto, não nos esperem nas comemorações vazias. Estaremos nos terreiros, nas retomadas, nas escolas e nas universidades. Estaremos nos tribunais e nas ruas, de pé, com nossa memória viva e nossas palavras afiadas. Não por vingança, mas por justiça. Não por ódio, mas por dignidade. Porque o Brasil precisa, urgentemente, aprender a nos escutar. Não como curiosidade folclórica, mas como parte essencial da sua própria alma.
Mas se é verdade que a dor indígena tem raízes profundas em todo o território brasileiro, aqui no nosso chão — onde o cerrado sangra e o milho já não nasce como antes — ela se apresenta com faces ainda mais brutais. Nossos tekohas, reduzidos à ínfima porção de terras, se transformaram em verdadeiros campos de concentração a céu aberto, onde se acumulam famílias inteiras sem o ao mínimo para viver com dignidade.
Nesta semana do índio, não queremos mais o papel de coadjuvantes nos palcos enfeitados para agradar forasteiros. Queremos ocupar com dignidade o lugar que é nosso por direito: o de protagonistas da história viva deste país. E ainda que a sociedade insista em nos ignorar, seguiremos acendendo nosso fogo, empunhado nossa tocha de resistência, para que o Brasil nos enxergue e nos respeite como Povos Originários e como a raiz de cada um brasileiro.
Não escolhemos a guerra, mas não fugimos da luta pela CAUSA. Porque resistir, para nós, não é escolha. É UMA FORMA (MODO) DE EXISTIR.
*Wilson Matos da Silva – É Indígena, Advogado Criminalista OABMS 10.689, especialista em Direito Constitucional, é Jornalista DRT 773MS. residente na Aldeia Jaguapiru – Dourados MS. [email protected]

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