Aos 23 anos, Ana Carolina Ramires Ferreira (foto), da etnia Kaiowá e moradora da Aldeia Jaguapiru, em Dourados, se tornou um dos principais nomes da representatividade indígena local. Eleita Miss Indígena, ela usa o título não apenas como reconhecimento de beleza, mas como uma ferramenta de luta e afirmação cultural.

“Representar minha cultura como miss indígena é lembrar às pessoas que não são da aldeia que ainda existimos, temos nossa cultura e seguimos lutando todos os dias”, afirma Ana Carolina. Para ela, manter as tradições é parte essencial do cotidiano, especialmente através do uso da língua materna em casa.

Ela vê o concurso como uma vitrine importante. “É uma forma de chamar a atenção para nossa cultura. E através da beleza indígena e do título, conseguimos falar sobre os problemas que enfrentamos dentro das comunidades.”

Apesar do orgulho e conquistas, os desafios ainda são grandes. “O preconceito e a discriminação existem, infelizmente até dentro do nosso próprio povo”, desabafa. Ana Carolina acredita que as vozes indígenas ainda têm pouco espaço na mídia e na política, embora reconheça avanços.

Sobre a beleza, ela é direta: “Meus traços dizem muito sobre quem eu sou e de onde vim.” Como inspiração para outras jovens, ela aconselha: “Sempre que posso, incentivo a seguir uma vida correta, com estudo e trabalho, sem nunca esquecer a essência que carregamos no sangue.”

Atualmente, Ana Carolina está finalizando o ensino superior e sonha em ser a primeira da família a conquistar um diploma universitário. “Mesmo depois de entregar a faixa, quero continuar divulgando nossa cultura e mantendo a luta pelo que precisarmos.”

Participar do concurso foi um divisor de águas. “Superei medos, enfrentei dificuldades, mas levo tudo como aprendizado. Aprendi a ter paciência e a ver o quanto somos fortes quando nos unimos — e o quanto ficamos fracos quando brigamos entre nós mesmos.”